quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

De grito em grito

Escrevo a bordo do vôo que nos leva de Rio Branco a Maceió, com conexão em Brasília. Vôo com vários amigos e conhecidos: o mesmo que leva os fotógrafos Talita Oliveira e Diego Gurgel pra Napoli. Os acreanos completarão o time de dez fotógrafos brasileiros em exposição na cidade italiana. No mesmo vôo, o cantor acreano Sérgio Souto retornando ao Rio de Janeiro, onde vive. E também Nilson Sabóia – liderança Huni Kuin (Kaxinawá) do rio Humaitá, lá de Tarauacá, no interior do estado – a caminho de São Paulo, onde vai editar vídeo documentário que revelará olhares do seu povo e vizinhos brancos a respeito da relação com índios em isolamento voluntário que habitam as cabeceiras do rio Humaitá, e que a cada ano realizam mais expedições nas aldeias Huni Kuin. Tive a oportunidade de fazer parte de uma equipe que em maio de 2009 esteve na terra do Nilson, levando imagens dos e informações sobre os isolados para os Huni Kuin, ocasião em que o cineasta indígena iniciou este projeto sobre os “parentes” isolados.

No nordeste em período carnavalesco, o Caldo de Piaba tocará em eventos especiais. No primeiro final de semana, só dá Grito Rock, festival integrado do Circuito Fora do Eixo que este ano acontece em 85 cidades, e se prepara pra entrar pro Guiness Book (é isso mesmo!) como o maior festival integrado de música do Mundo! Sexta é em Maceió, sábado em Arapiraca, interior de Alagoas (e terra do glorioso Asa de Arapiraca, que já desbancou o Palmeiras da Copa do Brasil e tirou a vaga do Rio Branco na série B!) e domingo em Salvador. Tudo com o apoio dos coletivos Pop Fuzz (Alagoas) e Quina Cultural (Salvador), ambos integrantes do Circuito Fora do Eixo Nordeste. Em seguida rumamos pra Recife, onde seremos recebidos pelo pessoal do Lumo Coletivo e tocaremos na terça de carnaval no Festival Rec Beat. Mais shows estão em negociação também.

Mas a gente volta a falar mais da Tour Caldo da Peste, Piaba no Nordeste em breve. Por ora, passemos a um relato do nosso Grito, o Grito Rock Rio Branco 2010, realizado pelo Coletivo Catraia nos dias 29 e 30 de janeiro. Em um avaliação geral, o evento foi um sucesso: público presente, bandas satisfeitas, parcerias que funcionaram e, o que é melhor, o evento se pagou! A correria pra conseguir patrocínios e apoio em material de consumo para a decoração e outras necessidades foi fundamental também. A escolha do local foi acertada: a sede social do Rio Branco Football Club (o “estrelão”, que há 3 anos quaaaase consegue subir da terceira pra segunda divisão do Campeonato Brasileiro de Futebol) fica bem no centro da cidade, tem um salão amplo que, apesar do palco um pouco alto e estreito, foi um ótimo cenário pro evento. Pequenos problemas elétricos e com goteiras foram logo contornados.

Enquanto o antigo salão do Vasco Acreano foi desfigurado e virou um restaurante (após ter sido também um bingo), e outros espaços culturais da cidade passam a ter outras destinações, foi simbólico realizar o Grito no clube do Rio Branco. Seu espaço físico continua como originalmente concebido, não obstante o fato do clube hoje ser arrendado para realização de atividades comerciais: nele funciona um restaurante, uma fotocopiadora, um estacionamento e, às sextas feiras, vigílias religiosas.

Parcerias e integração das artes – na edição deste ano do Grito o Catraia fortaleceu algumas parcerias e avançou na integração das artes. Nos dois dias do evento a CUFA-AC marcou presença realizando intervenções de grafitti e confeccionando camisetas com stencil, duas ações de sucesso. No segundo dia do evento, o pessoal do Centro Acreano de Hip Hop esteve lá para o Campeonato de B-boys. Tropa de Elite Breakers, Trindade Crew e SM Breakers (de Sena Madureira, interior do estado) disputaram os rachas, com a final tendo o fundo musical ao vivo dois break beats mandandos de improviso por nós do Caldo de Piaba.

Pontos fracos – algumas ações, no entanto, não funcionaram tão bem na programação, como a exibição de curtas e a discotecagem. Não bastassem os problemas técnicos que tivemos com o sistema de som montado exclusivamente para estas atividades, a escolha de exibir os vídeos entre as bandas não foi acertada. Os problemas técnicos fizeram com que não exibíssemos todos os curtas programados.

Observatório Fora do Eixo – pra gente foi um aprendizado muito grande a transmissão de um dia do Observatório, contando com a prestimosa ajuda do Carlos, do coletivo Guerrilha Gig de Franca. O Emerson Costa, consultor do SEBRAE que vem atuando na formalização de grupos culturais no Acre, fez uma fala bem didática sobre as distintas naturezas jurídicas possíveis para se formalizar coletivos como aqueles que integram a rede do Fora do Eixo.

Circulação – por conta da data escolhida para o evento nosso calendário ficou apertado e a já difícil logística pra trazer bandas de fora ficou prejudicada. Neste ano não tivemos bandas de outros estados, mas conseguimos reforçar a integração com o interior. Esteve presente o rock autoral da Caro John, de Tarauacá, e o emocore da K 42 de Sena Madureira. A K42, aliás, que perdeu o segundo dia do grito para voltar a Sena Madureira e participar do lançamento de um show de lançamento de CD, de ninguém menos do que o fenômeno youtubístico Vitória Matos e sua Kombi Branca. E olha que quando estivemos por lá em outubro passado com nosso Kombão, que também era branco, não conhecemos a kombona branca que serve como alento para a saudade da apaixonada Vitória. Assista o vídeo aqui.

Diversidade – dá pra dizer que esse foi o Grito Rock da diversidade. Além da integração das artes, houve uma variedade grande de estilos representados pelas bandas presentes. As bandas de metal mostraram que a qualidade desta cena cresce a cada dia, e seu público foi o maior do festival. As bandas do interior, por sua vez, mostraram que mesmo com as dificuldades de acesso a equipamentos e de viabilizar

Pra um relato mais detalhado da programação musical, veja aqui o texto da Kaline Rossi no blog do Catraia. Pra fotos do primeiro dia, visita o Flickr da Talita Oliveira. Vale a pena também dar uma olhada nesta ótima matéria feita pelo Aarão Prado, que além de vocalista da Camundogs e de locutor da Aldeia FM, é também repórter da TV Aldeia.


Di Deus.

Um comentário:

  1. Olá pessoal, sou de Salvador e fui pra o show de vocês ontem lá na Boomerangue.
    Parabéns pela bela apresentação e o profissionalismo que transmitiram pra todos nos aqui da terrinha. Continuem com o bom som que estão fazendo. Só uma observação, comprei o Ep de vocês lá no evento, porém quando cheguei em casa creio que a mídia continua virgem. hehehehe mas tudo tranquilo. A intenção era de prestigiar a banda. Mas dêem uma olhada nos outros cds, pois podem encotrar mais copias com problemas.
    Bons shows pelo resto do nordeste e nos veremos em breve.

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